Ex-presidente Jair Bolsonaro - Foto: Reprodução Alan Santos/PR |
A Procuradoria-Geral Eleitoral defendeu, junto ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), neste domingo (15), que o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) deve ficar inelegível novamente, agora por promover a
candidatura durante a celebração oficial do Bicentenário da Independência, no
ano passado.
O Ministério Público apontou que Bolsonaro cometeu abuso de
poder político e conduta vedada a agente público em campanha eleitoral, em três
processos sobre os atos de 7 de setembro de 2022, em Brasília e no Rio.
Bolsonaro está inelegível até 2030, por decisão do TSE,
desde junho. Por 5 votos a 2, os ministros da Corte Eleitoral enquadraram o
ex-presidente por abuso de poder político e uso indevido dos meios de
comunicação em razão da reunião em que atacou as urnas eletrônicas diante de
diplomatas.
Acusação de abuso de poder
Nos processos sobre o 7 de setembro, Bolsonaro e o general
Walter Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa, são acusados por abusos
de poder político e econômico, por usarem cerimônia oficial para fazer campanha
eleitoral, e conduta vedada a agente público, por se favorecerem de verbas
públicas, pessoal e material da União nos eventos.
No documento, o vice-procurador-geral eleitoral, Paulo
Gustavo Gonet Branco, afirma que “a prova dos autos revela uma intencional
hibridação dos eventos oficiais, custeados e organizados pelo governo federal,
com os atos de campanha do candidato à reeleição”.
“Observa-se uma apropriação de segmentos da estrutura
administrativa do Estado com desvirtuamento de atos oficiais comemorativos de
data de singular relevância simbólica no calendário cívico”, afirmou Gonet
Branco. “A interferência desses atos sobre a lisura do pleito é inequívoca, com
favorecimento da candidatura dos investigados, em detrimento dos seus
concorrentes.”
Convocação
Segundo o vice-procurador-geral, Bolsonaro poderia, “sem
dúvida”, estar nas festividades. O que o ex-presidente não poderia fazer,
afirmou, era transformar os atos em campanha eleitoral, “com exploração de
investimentos de recursos do erário, de pessoal e de bens públicos”.
Gonet Branco apontou que, na manhã de 7 de setembro do ano
passado, no Palácio do Planalto, Bolsonaro concedeu uma entrevista convocando a
população para o ato. Em seguida, o então presidente passou a “exaltar” a
gestão, a economia do País e outros temas considerados eleitorais.
“O fato é que, tanto em Brasília como no Rio de Janeiro,
houve estratégia de fusão dos eventos oficiais de desfiles militares e de ritos
institucionais com os atos de campanha do primeiro investigado (Bolsonaro),
realizados na vizinhança imediata e em que foram proferidos discursos de
inegável conteúdo eleitoral”, pontuou Gonet Branco.
Ações que Bolsonaro responde no TSE
O ex-presidente está sendo julgado em outras ações no TSE
que questionam transmissões ao vivo e entrevistas concedidas por ele no Palácio
do Planalto e no Palácio da Alvorada durante a campanha de 2022. Este
julgamento começou na terça-feira, 10.
Além desses processos, Bolsonaro e Braga Netto respondem a
três Ações de Investigação Judicial Eleitoral (Aijes) e uma Representação
Especial (RepEsp) por irregularidades nas comemorações do Bicentenário da
Independência. Neste domingo, Gonet Branco apresentou as alegações finais do
Ministério Público – última fase antes do julgamento do processo – para uma
Representação Especial e duas Aijes sobre o 7 de setembro.
O vice-procurador-geral eleitoral afirmou, no documento, que
“não há prova da participação” de Braga Neto “nem da sua anuência a eles”. Por
isso, na avaliação do Ministério Público Eleitoral, o militar “não pode sofrer
a pena da inelegibilidade pelo abuso de poder político”. O julgamento desses
três processos sobre o 7 de setembro ainda não tem data marcada.
Os procedimentos sobre o Bicentenário da Independência foram
movidos pela coligação Brasil da Esperança, da então candidata à Presidência,
senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), e pelo Partido Democrático Trabalhista
(PDT). Segundo o TSE, as ações têm diferenças, mas todas tratam do mesmo
evento, em setembro do ano passado.
No processo, a defesa de Bolsonaro afirmou que “houve
separação bem demarcada entre o que era evento institucional e o que era
campanha do candidato”. Os advogados do ex-presidente registraram ainda que o
então candidato à reeleição não fez discurso nas cerimônias oficiais.
No ano passado, três dias depois da comemoração do
Bicentenário, o ministro Benedito Gonçalves, do TSE, proibiu Bolsonaro de usar
imagens do 7 de setembro em suas propagandas no horário eleitoral. A
determinação do TSE atendeu a um pedido feito pela coligação do então candidato
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que alegou que Bolsonaro se aproveitou das
comemorações do 7 de Setembro, pagas principalmente com dinheiro público, para
fazer campanha. O ministro considerou, na ocasião, que o uso do evento feria a
isonomia que deve ser concedida aos candidatos em disputa eleitoral.
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